Cientistas desenvolvem córnea artificial

"Esta é a primeira vez que fomos capazes de regenerar a córnea de alguém", disse a Dra. May Griffith, cientista sênior do Ottawa Hospital Research Institute, no Canadá, e professora de medicina regenerativa na Universidade de Linköping, na Suécia.

 

A estrutura de córnea é constituída por um tecido chamado colágeno. Primeiro, os pesquisadores usaram colágeno humano cultivado em leveduras, feito pela empresa FibroGen Inc., de São Francisco, e o moldaram em uma base que imitava uma lente de contato.

 

Então, a Dra. May Griffith, em parceria com o cirurgião ocular Per Fagerholm, da Universidade de Linköping – Suécia, utilizou a córnea bioartificial em 10 pacientes com perda severa da visão após dano em uma camada da córnea. O tecido danificado de um olho foi retirado e a córnea biossintética, implantada.

Dois anos depois da operação, foi observado que as células e os nervos de nove dos dez pacientes cresceram e formaram uma córnea que funcionava normalmente.

As córneas biossintéticas tornaram-se sensíveis ao tato e os olhos produziram lágrimas. A visão melhorou em seis dos dez pacientes. E depois que eles receberam lentes de contato, procedimento comum em transplantes, a visão foi comparável a de pessoas que receberam córneas comuns.

 

Ainda em fase preliminar de testes, operações em voluntários mostraram que em 60% dos procedimentos os pacientes passaram a enxergar melhor, e a taxa de rejeição foi considerada muito baixa. As respostas clínicas se mostraram ainda melhores do que em pacientes que receberam órgãos naturais. 


 

“O colágeno humano recombinado [córnea artificial] é um substituto viável, além de não ter as limitações encontradas em transplantes humanos, como a transmissão de doenças”, afirma May Griffith, médica canadense que liderou as pesquisas. Depois de transplantada, a córnea artificial promove o crescimento de tecido no local e restaura a visão do paciente.

 

A nova córnea deve chegar aos mercados só daqui há dez anos

 

Córnea artificial de polímero

 

Uma outra opção que está sendo desenvolvida por um grupo de pesquisadores alemães é  uma cornea artifical feita de polímero e revestida com uma proteína especial à qual podem aderir as células da córnea natural.

 

Esta pesquisa é financiada pela União Européia (UE), e envolve pesquisadores alemães do Instituto Fraunhofer de Pesquisa Aplicada de Potsdam e do Hospital Universitário de Regensburg.

 

A nova córnea artificial já foi testada em laboratório, onde foi implantada em coelhos e, segundo os pesquisadores, apresentou "resultados promissores".

 

A descoberta resolve o principal problema que envolve atualmente a produção de córneas artificiais: a necessidade de que o implante cresça e se una firmemente ao tecido natural, com o centro do mesmo permanecendo isento de células, já que isso dificultaria a visão.

 

"Nossas córneas artificiais são feitas com um polímero que está à venda, que não absorve água e que não permite que cresçam células sobre o mesmo", explicou em comunicado Joachim Storsberg, coordenador do projeto. "Desta forma, a córnea implantada pode unir-se com firmeza à parte natural da córnea, enquanto a parte central permanece isenta de células", disse.

 

Doenças e traumas na córnea são os principais responsáveis pela cegueira em todo o mundo. Em países onde há bancos de armazenamento desses tecidos, o tratamento acontece somente com córneas naturais, retiradas de doadores. Os estoques, no entanto, são bem inferiores à demanda, deixando cerca de 10 milhões de pacientes em todo o mundo nas filas de espera.

 

Tecidos artificiais ou cultiváveis são alternativas para eliminar a necessidade de tecido doador e tornar possível o tratamento de milhares de pessoas com incapacidade visual decorrente de doenças da cornea.