Cresce a demanda por cursos de gestão em saúde

 

Administrar uma área na qual o trabalho implica na saúde do cliente é algo complexo. Principalmente num setor que vive às voltas com a redução de custos, e em que o serviço pode sair muito mais caro sem um bom gerenciamento. É preciso conhecer técnicas modernas de administração, ser capaz de tomar decisões sob pressão e estabelecer prioridades. São particularidades que não se encontram nos programas gerais de especialização para executivos. E o mercado está cada vez mais exigente. Isso explica por que a demanda por cursos de gestão em saúde não para de crescer.
 
Além do pessoal da área, como médicos, nutricionistas, farmacêuticos, fisioterapeutas, dentistas e profissionais de enfermagem, as turmas são compostas de administradores, advogados e economistas que trabalham em empresas desse segmento. Gente que exerce atividades em planos de saúde, seguradoras, laboratórios, clínicas e redes hospitalares.
 
Na Fundação Getúlio Vargas (FGV), por exemplo, as organizações costumam custear o curso de mais de um funcionário por turma do MBA Executivo em Saúde.
 
- O Brasil tem muita carência de bons gestores de saúde. O número de turmas tem aumentado muito nos últimos anos - verifica a professora Tania Furtado, coordenadora do MBA da FGV.
 
Há dois anos, o Coppead - a escola de negócios da UFRJ - passou a montar duas turmas por ano no curso "Gestão em Saúde". Cerca de 60% dos alunos são de empresas privadas e o restante, de instituições públicas. Com o passar do tempo, foram incorporadas matérias como Comportamento do Consumidor dos Serviços de Saúde, Informática para a Saúde e Indicadores de Desempenho.
 
- Faltam profissionais que saibam trabalhar com custos, gestão da qualidade, técnicas de negociação. Quem trabalha para uma prestadora de serviços, por exemplo, precisa conhecer sua realidade em termos de custos, para saber quanto vai poder cobrar, como vai negociar com planos de saúde, quais suas margens. Precisa saber avaliar se uma expansão vai dar retorno e em quanto tempo - explica Kleber Fossati Figueiredo, coordenador do curso e diretor do Coppead.
 
Segundo ele, tanto na esfera pública quanto na privada, os clientes estão mais exigentes:
 
- Todos conhecem os poucos investimentos destinados à saúde e sabem que a demanda é crescente. Para poder atender a todos com um mínimo de qualidade, é preciso evitar desperdícios, saber comprar e ter maior controle sobre os gastos. E isso independe da esfera, pública ou privada.
 
Ana Dottling é gerente de Desenvolvimento de Recursos Humanos do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Ela é responsável por treinamento, recrutamento, avaliação de desempenho, remuneração e cargos e ainda pela parte de acreditação (certificação) nos padrões de educação e qualificação profissional. Aluna do Coppead, Ana diz que a gestão de RH na saúde exige sabedoria para lidar com situações que fogem do cotidiano de uma empresa de outra natureza:
 
- Neste segmento, a atenção precisa ser redobrada. A visão do entorno é essencial para as tomadas de decisão. A gestão de pessoas e processos gera resultados eficientes, uma complementando a outra. Não existe a possibilidade de trabalhar de forma isolada.
 
Depois do quadro de direção, planejamento e assistência, o Inca indicou nos últimos dois anos gerentes da sua infraestrutura para o curso. Marisa Martins foi uma das alunas. Responsável pela gestão administrativa e financeira da área educacional, após ter chefiado o setor de compras, ela considera que esse é um nicho também na área pública:
 
- A demanda só tende a aumentar. Atender com qualidade às necessidades dos usuários requer mudanças constantes na organização, rearranjos institucionais. Veja o exemplo do Inca, que no momento está reorganizando internamente a estruturação de um novo campus. Isso não significa apenas uma obra, novos edifícios, mas impõe toda uma reorganização estrutural.